Inovações no diagnóstico e tratamento de infeções da vulva e vagina
- laracaseiroginecol
- 3 de nov. de 2023
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As infeções na vulva e vagina afetam muitas mulheres e são motivo de consulta frequente em Ginecologia. Durante o curso das suas vidas, aproximadamente 80% das mulheres terão pelo menos um episódio sintomático que causará desconforto e disrupção nas suas rotinas diárias. Essas infeções podem ter várias origens, incluindo desequilíbrios bacterianos, crescimento excessivo de fungos e outros fatores inflamatórios. A boa notícia é que avanços recentes no diagnóstico e tratamento dessas infeções têm melhorado a qualidade do atendimento às pacientes. Reconhecer e tratar casos de doença recorrente também tem proporcionado melhor qualidade de vida a muitas mulheres.
Diferentes Infeções que Afetam a Vulva e Vagina, Sintomas e Tratamento:
1. Vaginose Bacteriana (VB):
• Sintomas: A VB frequentemente se manifesta com um corrimento branco-acinzentado com odor a peixe e prurido. No entanto, muitas pessoas com VB podem permanecer assintomáticas.
• Tratamento: Antibióticos são comumente prescritos para tratar o crescimento excessivo de bactérias nocivas. O tratamento de primeira linha é o metronidazol 500mg oral 2x/dia durante 7 dias. Não sendo uma infeção sexualmente transmissível, os parceiros não precisam ser tratados.
2. Infeções por Fungos (Candidíase):
• Sintomas: As infeções por fungos geralmente causam prurido, ardor e um corrimento vaginal espesso e branco. Algumas pessoas podem apresentar sinais inflamatórios marcados como o edema e eritema da vulva.
• Tratamento: São utilizados medicamentos antifúngicos, disponíveis em forma tópica (clotrimazol) ou oral (fluconazol). Cerca de 8% das mulheres terão infecções recorrentes com a necessidade da toma de fluconazol semanal por, pelo menos, 6 meses.
3. Tricomoníase:
• Sintomas: Os sintomas incluem prurido, ardor e um corrimento arejado com odor a peixe. Algumas doentes podem sentir disúria ou dispareunia.
• Tratamento: A tricomoníase é tratada com antibióticos, geralmente metronidazol (em posologia idêntica à vaginose) ou tinidazol (tratamento preferencial do parceiro).
4. Vaginite Inflamatória Descamativa (VID):
• Sintomas: Esta condição é marcada por uma intensa sensação de ardor vaginal, edema e inflamação. As doentes podem também apresentar aumento do corrimento vaginal.
• Tratamento: A vaginite descamativa inflamatória é tratada com clindamicina creme 2%, 5g 1x/dia durante 14 dias.
O diagnóstico oportuno e preciso da infeção específica é fundamental para um tratamento eficaz. Uma publicação recente da ISSVD (International Society for the Study of Vulvovaginal Disease) enfatiza que o tratamento empírico deve ser evitado a todo o custo e, como tal, exames laboratoriais passíveis de serem realizados em consulta devem ser aplicados: verificação do pH vaginal, mistura das secreções vaginais com KOH 10% (teste das aminas) e o exame microscópico do corrimento (Vieira-Baptista P. et al. International Society for the Study of Vulvovaginal Disease: Recomendações para o diagnóstico e tratamento de vaginites. Lisboa: Admedic, 2023). Recentemente, têm sido desenvolvidos testes moleculares e os testes diagnósticos "point-of-care" (que podem ser realizados no consultório ou no domicílio) que ajudam a identificar o agente causador e a orientar qual o tratamento mais apropriado. No entanto, ainda não estão amplamente disponíveis ou o custo é ainda bastante elevado. Ainda assim, os testes moleculares são a melhor opção no diagnóstico de vaginose bacteriana e tricomoníase.
Quanto à candidíase, o diagnóstico é cultural e especialmente importante no caso de doença recorrente para a confirmação que se trata da espécie mais comum de candida (albicans) e não uma espécie atípica resistente ao tratamento com os imidazóis habituais. O diagnóstico da VID é a microscopia a fresco e, talvez pela parca disponibilidade de microscópios em consulta, mantém-se uma doença subdiagnosticada.
Em conclusão, as inovações tanto no diagnóstico quanto no tratamento das infeções vulvovaginais têm alterado a forma como os profissionais de saúde abordam essas condições comuns. Com planos de tratamento personalizados, diagnósticos rápidos e um foco na prevenção da doença recorrente, as pacientes podem esperar resultados melhores e uma melhor qualidade de vida.
Bibliografia:
3. Jeng, H. S.; Yan, T. R.; Chen, J. Y., Treating vaginitis with probiotics in non-pregnant females: A systematic review and meta-analysis. Exp Ther Med 2020, 20, (4), 3749-3765.
4. Wang, Z.; He, Y.; Zheng, Y., Probiotics for the Treatment of Bacterial Vaginosis: A Meta-Analysis. Int J Environ Res Public Health 2019, 16, (20).
5. Chen, X.; Lu, Y.; Chen, T.; Li, R., The Female Vaginal Microbiome in Health and Bacterial Vaginosis. Front Cell Infect Microbiol 2021, 11, 631972.




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